domingo, 22 de janeiro de 2012

Professor reutiliza garrafas pet para construir sala de aula em Planaltina


Professor reutiliza garrafas pet para construir sala de aula em Planaltina Orientados pelo professor, alunos do Centro de Ensino Fundamental nº 2 de Planaltina, envolveram-se em um projeto ecológico, arregaçaram as mangas e construíram uma sala de aula com material reciclável. 

Karyne da Silva exibe o prêmio ganho pela escola: "Achei muito legal esse projeto, mas, no começo, pensei que não fosse dar certo"

Quantos tijolos são necessários para construir uma sala de aula? No Centro de Ensino Fundamental nº 2 de Planaltina, nenhum. Com criatividade, o professor Gilvan Luis França deixou de lado os materiais de construção convencionais e ergueu a estrutura com garrafas PET que iriam para o lixo. O docente teve a ideia de preenchê-las com areia, o que barateou o custo da obra e garantiu a sustentação do espaço destinado aos alunos do ensino integral. Gilvan também usou produtos recicláveis nas janelas, feitas de bambu, e no piso da frente, construído com as pedras quebradas retiradas das calhas da escola. Na parte de cima das paredes, pedaços de papel crepom e tinta guache deram um colorido especial à sala de aula.

A ideia de construir um espaço para os alunos surgiu quando o colégio passou a oferecer o ensino integral. Os meninos e meninas não tinham um local para passar a tarde, e Gilvan teve a ideia de construir a sala com as garrafas PET. Dessa forma, poderia trabalhar a conscientização ambiental com os estudantes, uma das iniciativas da escola. “No início, pensamos em confeccionar pufes e bonecos, mas por que não fazer um projeto maior? Essa parte onde fizemos a obra estava ociosa e sem serventia para nós”, explicou o professor do CEF 2 de Planaltina.

Com o início dos trabalhos, o projeto ganhou a simpatia de toda a escola. Os 1,8 mil alunos se envolveram com a ideia e ajudaram a arrecadar o material necessário. Eles reuniram 20 mil garrafas PET, das quais 15 mil foram usadas nas paredes da sala. “Eu parava o carro no meio da rua para pegar uma garrafa. Em dois meses já tínhamos o suficiente para começar”, lembrou Gilvan. Todos queriam se envolver na construção. Era só o sinal tocar e os estudantes corriam até o pátio para encher os recipientes com areia. Ficavam horas ali, sem ver o tempo passar. “Na hora do recreio, todo mundo vinha para cá. Deixavam de brincar para encher as garrafas”, contou o professor.


Alunos de ensino médio envolvidos no Percussucata: uma orquestra de PETs

Depois dessa primeira etapa, era hora de começar a obra. Aos poucos, as garrafas e o barro davam forma à parede. Em setembro do ano passado, a sala de aula ficou pronta. Mesmo com o esforço de todos, o início do trabalho foi difícil. “Estudamos bastante na internet para saber se era viável construir a sala com as garrafas, fizemos um trabalho de pesquisa e escrevemos um projeto, mas não tivemos ajuda de profissionais”, explicou Gilvan. “Não dormi algumas noites, preocupado com a parede. Fiquei com medo de que pudessem cair a qualquer momento.” Para baratear os custos, o professor usou concreto somente nas pilastras de sustentação da sala. A cobertura ficou a cargo da direção da escola.

Prêmio
Enquanto pesquisava na internet como erguer a parede com segurança, o professor encontrou o site da Associação Brasileira da Indústria do Pet (Abipet). Gilvan inscreveu o projeto da escola no prêmio e, em novembro do ano passado, recebeu a notícia de que a ideia tinha sido aprovada na primeira fase da categoria educação ambiental. Ele foi até São Paulo para participar da festa e receber o prêmio, um troféu e um cheque de R$ 2 mil. Com o dinheiro, Gilvan pretende comprar jogos educativos e outros equipamentos para desenvolver as atividades previstas no ensino integral.

O troféu é motivo de orgulho para os alunos do colégio. A estudante da 8ª série do CEF 2 de Planaltina Karyne Xavier da Silva, 15 anos, ficou satisfeita de ter participado de todas as etapas da construção da sala da escola onde estuda. “Achei muito legal esse projeto, mas, no começo, pensei que não fosse dar certo.”

A aluna da 8ª série Roana Ywara Neres, 14 anos, também ficou receosa de que a sala não saísse do papel. “Pensei que seria uma coisa pequena, mas me surpreendi com o resultado. Depois da aula, a gente vinha para cá e ficava enchendo as garrafas”, lembrou. A jovem arrecadou o material com os parentes, vizinhos e amigos. “Mexer com o barro foi muito divertido. Desde o princípio, gostei da ideia, que é um projeto muito legal.”

Depois de a sala ficar pronta, Gilvan olha para os alunos e se orgulha do resultado. “Sempre gostei de trabalhar a conscientização ambiental, a importância da preservação com as crianças, que são o nosso futuro. Isso fará parte da vida deles para sempre”, avaliou. O professor lembrou que as garrafas PET levam de 100 a 400 anos para se decompor. “A gente pensa que todo esse material poderia estar nas ruas, mas está aqui, com uma função. Isso é muito legal”, concluiu.

Música na escola
São diversas as maneiras de reutilizar as garrafas PET. Em Brasília, o professor de ensino fundamental Marcelo Capucci desenvolve, desde 2007, um projeto que ensina estudantes da rede pública a reciclar esses utensílios. Foi assim que nasceu a Percussucata, uma orquestra da qual praticamente todos os instrumentos foram feitos a partir de garrafas PET. Três anos depois, a boa ideia rendeu um prêmio ao professor, conferido por seu trabalho de conscientização ambiental com a educação básica. E o projeto foi ampliado: Capucci se aliou à campanha contra a dengue, estimulando as pessoas a utilizarem as pets recicladas.

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